
"O Boletim de Ocorrência, registrado preliminarmente na Delegacia de Plantão de Aracaju relata que a médica teria invadido o espaço destinado aos funcionários da companhia aérea após ser informada de que não poderia embarcar. Em depoimento à polícia, o supervisor da Gol disse que a médica teria ficado descontrolada e gritado que a viagem para a Argentina seria de lua de mel. Em seguida, ainda de acordo com o depoimento do funcionário da Gol, ela passou a quebrar objetos do balcão da empresa e a jogar papéis no chão. " - Fonte : http://www.snn.com.br/noticia/56344/10/policia-investiga-caso-de-racismo-contra-funcionario-da-gol-no-aeroporto-de-aracaju.html
Creio que este fato já tão divulgado pela mídia veio a cair como uma luva para algo que já estava pensando em postar há algum tempo, pois agora - em 8 de outubro - tive o prazer de completar 8 anos de vida pública. Foi em 2001 que resolvi pleitear uma vaga de nível técnico para o quadro público da Saúde do município no qual resido, e foi neste mesmo ano que fui aprovado e classificado em concurso para a área da qual me identifico: a administração. Durante esse tempo de labor estatutário, trabalhei boa parte do tempo em áreas muito singulares: Na Coordenadoria de Administração da Secretaria de Saúde e no Instituto de Previdência dos Servidores Públicos, tendo somente agora - no corrente ano - a experiência de lidar com médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em seu ambiente "in natura", ou seja, nas dependências de um referenciado hospital. Já em princípio de conversa gostaria de resumir pra você a minha experiência com uma frase que disse à uma médica local: "Estou profundamente decepcionado com a classe médica".
É claro que não vou aqui cometer o erro das generalidades, pois certa vez alguém muito sábio já disse que "toda a unanimidade é burra", e muito menos pretendo aqui me pronunciar quanto as competências técnicas de cada profissional. No entanto, o que quero destacar é a minha experiência pessoal relacionada ao microuniverso em que me encontro (um único hospital) e expor aos leitores que me acompanham algo que talvez desconheçam.
O fato é que tenho visto em grande escala uma "doença"chamada arrogância, e porque não dizer, uma "epidemia megalomaníaca" entre a esmagadora maioria dos médicos daquele nosocômio. Enfermeiros, técnicos de enfermagem, administrativos e auxiliares de enfermagem são tratados como objetos de segunda classe. Percebo que os médicos se autoprotegem em suas "panelinhas" e tratam qualquer ser externo a elas de uma maneira que seria estranha ao mais excluído pária indiano. Tenho visto que eles não pedem, mas dão ordens. Não falam, mas vociferam contínuas críticas a todos os que não pertencem a sua classe.
Para não correr o risco de ser individualista em minha percepção, fui conversar com os mais diversos funcionários e pude perceber as imensas feridas em suas almas e em suas estimas, causadas por pessoas que se acham semideuses ao cuidar do corpo enquanto destroem as almas daqueles que as cercam. Não foram poucos os relatos de maus tratos, xingamentos e humilhações, e isso me faz pensar que os que cuidam do corpo humano precisam aprender a serem Humanos.
Já um outro aspecto importante a destacar é o corporativismo. Esquemas e mais esquemas são montados para garantir a lei do menor esforço. O chamado Estar Médico é o ambiente preferido daqueles que se revezam em proporções desproporcionais de atendimento (principalmente no período noturno). São poucos trabalhando e muitos dormindo. Nas altas madrugadas, os poucos que estão no turno (pra não enfatizar o singular) atendem lentamente a fim de que o tempo logo passe e que passando, a bola seja logo passada para o próximo colega.
Uma outra coisa interessantíssima que encontrei foi o hábito de transformar funcionários plantonistas em babás. Sim, a imensa maioria não sabe, mas médicos costumam ter sono de urso e não conseguem acordar com despertadores ou celulares. Por este motivo, desenvolvem seu lado lúdico ao desenhar suas caminhas em esquemas detalhados de posicionamento e horários a fm de que a pobre equipe de enfermagem ou os terceirizados os acordem durante as madrugadas. Estes últimos - com receio de quebrar a tradição milenar - se dirigem aos seus quartos e no escuro (não podem acender a luz) identificam o médico da vez para que com voz mansa e suave possam dizem em seus ouvidos: "Ei Doutor, está na hora, tá?". Bem, não preciso nem dizer que já nos primeiros dias não me sujeitei a tal coisa. E sabem o que ouvi?
- "QUEM VOCÊ É AQUI DENTRO?"
- "VOCÊ ESTÁ NO LUGAR ERRADO, HEIN?".
Bem, sinceramente, não sei o que dá a algumas pessoas o direito de se acharem superiores às outras, mas diante destas experiências tenho constatado que a classe médica em sua esmagadora maioria no hospital onde trabalho, encontra-se doente. Não posso falar de outros lugares, pois como disse no início, relato apenas a experiência que tenho vivido.
A grande verdade é que cada vez mais percebo a extrema necessidade de nos achegarmos e atendermos ao chamado de Jesus que nos faz um necessário convite em Mateus 11:29 dizendo: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma".
É chegado o tempo de termos humildade para examinar o nosso interior e sinceridade para procurar em Cristo a ajuda que precisamos. Se você que está lendo este post é médico e não se enquadra no que relatei, parabéns a você! Continue sendo exemplo aos outros. Mas se você enxergou suas práticas através dos olhos de quem convive neste ambiente, peça perdão a Deus e aprenda em Jesus como mudar a sua atitude. O principal beneficiado será você.
E para finalizar este post, deixo aqui sábias palavras daqueles que humildemente já conseguiram enxergar a finitude que acompanha toda a nossa raça e a necessidade que temos de nos humanizar a cada dia.
"A medicina é a ciência das verdades transitórias,
pois os conhecimentos mudam constantemente."
José A. Pinotti, deputado e professor emérito da USP e da UNICAMP
"Os alunos [das faculdades de medicina] são cada vez mais técnicos, mais científicos na sua abordagem, em detrimento da relação com o paciente. Cerca de 30% da cura ou do cuidado depende da empatia: eu [médico] dando o meu melhor possível, ele [paciente] acreditando, e nós juntos trabalhando para superar aquela dificuldade e dividindo nossas preocupações. É isso que faz um tratamente efetivo, não é simplesmente dar uma droga. Temos de reumanizar o curso médico. Está muito técnico e isso está influenciando a prática médica."
Bráulio Luna Filho, médico e livre-docente da Universidade Federal de São Paulo.
"É melhor conviver com a doença do que com certos médicos, pois a doença nos lembra da nossa fragilidade enquanto alguns médicos fomentam a nossa hostilidade"
Anônimo
"A medicina vence batalhas, mas não vence a guerra.
Ela não derrota a mortalidade do corpo"
João Pereira Coutinho, jornalista