Mania de Entender

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Médicos doentes

"A Polícia Civil de Sergipe investiga uma médica acusada de ter ofendido com palavras racistas um funcionário da empresa aérea Gol, no Aeroporto Santa Maria, em Aracaju. Em um vídeo feito por celular e divulgado pela internet, Ana Flávia Pinto Silva aparece chamando Diego José Gonzaga de 'nego', 'morto de fome' e 'analfabeto', além de humilhar outros funcionários da companhia aérea por ter chegado atrasada para o check-in de um voo para a Argentina, onde passaria lua-de-mel."
"O Boletim de Ocorrência, registrado preliminarmente na Delegacia de Plantão de Aracaju relata que a médica teria invadido o espaço destinado aos funcionários da companhia aérea após ser informada de que não poderia embarcar. Em depoimento à polícia, o supervisor da Gol disse que a médica teria ficado descontrolada e gritado que a viagem para a Argentina seria de lua de mel. Em seguida, ainda de acordo com o depoimento do funcionário da Gol, ela passou a quebrar objetos do balcão da empresa e a jogar papéis no chão. " - Fonte : http://www.snn.com.br/noticia/56344/10/policia-investiga-caso-de-racismo-contra-funcionario-da-gol-no-aeroporto-de-aracaju.html
Creio que este fato já tão divulgado pela mídia veio a cair como uma luva para algo que já estava pensando em postar há algum tempo, pois agora - em 8 de outubro - tive o prazer de completar 8 anos de vida pública. Foi em 2001 que resolvi pleitear uma vaga de nível técnico para o quadro público da Saúde do município no qual resido, e foi neste mesmo ano que fui aprovado e classificado em concurso para a área da qual me identifico: a administração. Durante esse tempo de labor estatutário, trabalhei boa parte do tempo em áreas muito singulares: Na Coordenadoria de Administração da Secretaria de Saúde e no Instituto de Previdência dos Servidores Públicos, tendo somente agora - no corrente ano - a experiência de lidar com médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em seu ambiente "in natura", ou seja, nas dependências de um referenciado hospital. Já em princípio de conversa gostaria de resumir pra você a minha experiência com uma frase que disse à uma médica local: "Estou profundamente decepcionado com a classe médica".
É claro que não vou aqui cometer o erro das generalidades, pois certa vez alguém muito sábio já disse que "toda a unanimidade é burra", e muito menos pretendo aqui me pronunciar quanto as competências técnicas de cada profissional. No entanto, o que quero destacar é a minha experiência pessoal relacionada ao microuniverso em que me encontro (um único hospital) e expor aos leitores que me acompanham algo que talvez desconheçam.
O fato é que tenho visto em grande escala uma "doença"chamada arrogância, e porque não dizer, uma "epidemia megalomaníaca" entre a esmagadora maioria dos médicos daquele nosocômio. Enfermeiros, técnicos de enfermagem, administrativos e auxiliares de enfermagem são tratados como objetos de segunda classe. Percebo que os médicos se autoprotegem em suas "panelinhas" e tratam qualquer ser externo a elas de uma maneira que seria estranha ao mais excluído pária indiano. Tenho visto que eles não pedem, mas dão ordens. Não falam, mas vociferam contínuas críticas a todos os que não pertencem a sua classe.
Para não correr o risco de ser individualista em minha percepção, fui conversar com os mais diversos funcionários e pude perceber as imensas feridas em suas almas e em suas estimas, causadas por pessoas que se acham semideuses ao cuidar do corpo enquanto destroem as almas daqueles que as cercam. Não foram poucos os relatos de maus tratos, xingamentos e humilhações, e isso me faz pensar que os que cuidam do corpo humano precisam aprender a serem Humanos.
Já um outro aspecto importante a destacar é o corporativismo. Esquemas e mais esquemas são montados para garantir a lei do menor esforço. O chamado Estar Médico é o ambiente preferido daqueles que se revezam em proporções desproporcionais de atendimento (principalmente no período noturno). São poucos trabalhando e muitos dormindo. Nas altas madrugadas, os poucos que estão no turno (pra não enfatizar o singular) atendem lentamente a fim de que o tempo logo passe e que passando, a bola seja logo passada para o próximo colega.
Uma outra coisa interessantíssima que encontrei foi o hábito de transformar funcionários plantonistas em babás. Sim, a imensa maioria não sabe, mas médicos costumam ter sono de urso e não conseguem acordar com despertadores ou celulares. Por este motivo, desenvolvem seu lado lúdico ao desenhar suas caminhas em esquemas detalhados de posicionamento e horários a fm de que a pobre equipe de enfermagem ou os terceirizados os acordem durante as madrugadas. Estes últimos - com receio de quebrar a tradição milenar - se dirigem aos seus quartos e no escuro (não podem acender a luz) identificam o médico da vez para que com voz mansa e suave possam dizem em seus ouvidos: "Ei Doutor, está na hora, tá?". Bem, não preciso nem dizer que já nos primeiros dias não me sujeitei a tal coisa. E sabem o que ouvi?
- "QUEM VOCÊ É AQUI DENTRO?"
- "VOCÊ ESTÁ NO LUGAR ERRADO, HEIN?".
Bem, sinceramente, não sei o que dá a algumas pessoas o direito de se acharem superiores às outras, mas diante destas experiências tenho constatado que a classe médica em sua esmagadora maioria no hospital onde trabalho, encontra-se doente. Não posso falar de outros lugares, pois como disse no início, relato apenas a experiência que tenho vivido.
A grande verdade é que cada vez mais percebo a extrema necessidade de nos achegarmos e atendermos ao chamado de Jesus que nos faz um necessário convite em Mateus 11:29 dizendo: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma".
É chegado o tempo de termos humildade para examinar o nosso interior e sinceridade para procurar em Cristo a ajuda que precisamos. Se você que está lendo este post é médico e não se enquadra no que relatei, parabéns a você! Continue sendo exemplo aos outros. Mas se você enxergou suas práticas através dos olhos de quem convive neste ambiente, peça perdão a Deus e aprenda em Jesus como mudar a sua atitude. O principal beneficiado será você.
E para finalizar este post, deixo aqui sábias palavras daqueles que humildemente já conseguiram enxergar a finitude que acompanha toda a nossa raça e a necessidade que temos de nos humanizar a cada dia.
"A medicina é a ciência das verdades transitórias,
pois os conhecimentos mudam constantemente."
José A. Pinotti, deputado e professor emérito da USP e da UNICAMP
"Os alunos [das faculdades de medicina] são cada vez mais técnicos, mais científicos na sua abordagem, em detrimento da relação com o paciente. Cerca de 30% da cura ou do cuidado depende da empatia: eu [médico] dando o meu melhor possível, ele [paciente] acreditando, e nós juntos trabalhando para superar aquela dificuldade e dividindo nossas preocupações. É isso que faz um tratamente efetivo, não é simplesmente dar uma droga. Temos de reumanizar o curso médico. Está muito técnico e isso está influenciando a prática médica."
Bráulio Luna Filho, médico e livre-docente da Universidade Federal de São Paulo.
"É melhor conviver com a doença do que com certos médicos, pois a doença nos lembra da nossa fragilidade enquanto alguns médicos fomentam a nossa hostilidade"
Anônimo
"A medicina vence batalhas, mas não vence a guerra.
Ela não derrota a mortalidade do corpo"
João Pereira Coutinho, jornalista

3 comentários:

Dra. Nicole Dias disse...

Olá Pr. Rodrigo. Infelismente mente esta é uma realidade encontrada em vários hopitais por onde passamos a trabalho ou mesmo na procura de atendimento. E é algo que parece ser irremediável, uma vez que a forma como as pessoas agem com seus semelhantes depende exclusivamente do seu caráter.
Um grande abraço!

William de Oliveira disse...

Pastor, onde eu me inscrevo pra ser colaborados (de posts) do seu blog ?
tem que fazer alguma prova? tipo concurso -rs- se tiver eu faço com prazer =D

Marlene Maravilha disse...

Confesso que nao li o texto na íntegra, apesar de estar excelente, mas eu também acho que os médicos concorrem entre si num estado de demencia coletiva. É absurdamente triste ver tanta soberba e pobreza de espírito, dentro da profissão.
FELIZ NATAL E UM ANO NOVO CHEIO DE PODER E DA GLÓRIA DE DEUS!
abraços,