Mania de Entender

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Nosso morro foi invadido!

Após nove meses nasce seu filho. Você que acompanhou cada mês sabe que as condições não foram muito favoráveis e o pré-natal foi meio “jogado” ou quase inexistente. No entanto, nasceu saudável e você pode então dar-lhe o nome que cuidadosamente escolheu. Quem sabe um nome contendo a letra “Y” ou mesmo com dobramento de consoantes até na tentativa de evocar uma fuga da realidade local tão dura. Quem sabe um nome de artista ou de uma personalidade, tentando expressar nesta nomeação a esperança de que o pequeno seja alguém que dê orgulho e faça a diferença sabe-se Deus como.

Então você cuida dele e tenta educá-lo com valores, afinal, princípios e dignidade não são coisas exclusivas dos ricos e cultos. Daí você matricula-o na escola e o cobre de conselhos sobre os diversos caminhos da vida e suas conseqüências. Mesmo dando duro para conseguir o pão, você o alerta sobre as más companhias e evidencia para ele o filho da vizinha que conseguiu ser “alguém na vida”. No entanto, ao longo do tempo, percebe que o pequenino (que já não é criança) agora escolhe um mau caminho. Um caminho de drogas e crimes que faz seu coração sofrer. Você chora, vai buscá-lo na “boca” e traze-o pra casa quase arrancando sua orelha, mas infelizmente a coisa não muda, embora seu coração creia que as duras experiências da vida farão o pequenino cair em si e se lembrar dos conselhos que você tantas vezes deu, além do sofrimento que existe em seu coração.

Certo dia, depois de sair do morro buscando proteção, você entra em um bar e vê uma cena inacreditável. Você vê bandidos em fuga enquanto helicópteros sobrevoam a área e tiros são disparados contra eles. Mas a cena inacreditável pra você não é a fuga em si, mas a percepção que naquele meio estava o seu filho. Em fuga, desesperado. Seu coração de pai/mãe acelera enquanto você ouve os gritos das pessoas dizendo:

- Mata estes desgraçados!

Um homem com a bíblia na mão diz:

- É a hora de mandar um míssil em cada um deles!

Você então engole seco e secretamente ora pedindo a Deus que seu filho seja preso e cumpra a pena, pois, apesar de tudo ele é seu filho e não foi isso o que você sonhou pra ele. Nesse momento sua oração é interrompida. Um “homem de bem” grita bem alto “Mate este ladrão!”. Como um relâmpago surge um insight em sua mente e você se lembra de um filme que vira há algum tempo, um filme em que uma multidão imbuída de um senso de justiça gritava: “Crucifica-o!”. A associação foi imediata. Você percebeu nesta hora que os “homens de bem” também gostam de assistir mortes, desde que não seja a morte daqueles a quem amam. Por longos segundos você tem uma visão e nela surpreende-se em ver Deus assistindo nossos crimes, nossas “pequenas” desonestidades, nossas “justificadas” mentiras e nossos “violentos desejos de executar a justiça”. Com muita tristeza em seu coração, Deus nos vê correndo em nossos caminhos sendo violentamente alvejados pelas conseqüências de nossos atos e pensamentos. E vendo tudo isto Deus se comove, pois não foi nada disso que ele sonhou para nós.

Ali naquele bar, enquanto a TV mostra os bandidos em fuga, na sua mente você vê a Humanidade em fuga como alvo fácil enquanto ouve vozes demoníacas gritando:

- Mande um raio e mate estes desgraçados!

- Faça justiça, Deus! Eles merecem!

- Olhe no que o mundo se tornou, todos os homens são culpados!

Então você vê Deus respondendo:

- O mal não é uma pessoa. O mal é a atitude de pessoas maldosas. Para acabar com o mal, eu poderia fazer duas coisas: a primeira seria eliminar os maldosos. Daí não sobraria ninguém, pois de alguma forma todos agem de maneiras más ao longo da vida. A segunda forma seria transformar os maldosos e fazê-los deles promotores da mudança que só eu posso realizar na vida dos homens.

Os longos segundos passam vagarosamente. Você entende que, diferente de você, Deus não ficou assistindo os filhos em fuga, mas contra toda a lógica dos homens, invadiu nosso morro. Sim, na pessoa de Cristo, Deus invadiu o nosso morro para nos convencer da rendição. E em sua missão Cristo é alvejado. Mas sua atitude e seu amor impactam os sensíveis de coração. E o que parecia desgraça toma outro significado, pois o que parecia o fim, na realidade era um começo. O começo de um processo onde nós, os maldosos, encontraríamos vida no significado do ato daquele que voluntariamente correu todos os riscos.

E assim você tem um relance do amor de Deus. Ali, naquele bar, você compreende que o Pai do Céu não é aquele que por força de ameaças nos convence de mudanças, mas é aquele que por amor e sacrifício nos leva a refletir sobre o valor que tem nossa vida, nos convidando a escolher mudança. Deus é aquele que poderia destruir o morro com todos nós juntos, mas prefere nos mostrar (as custas do seu sacrifício) o valor que temos, pois o ele não veio para destruir o mundo, mas sim para que o mundo fosse salvo por ele.

Sim, naquele bar, você descobre que o nosso morro já foi invadido pelo anúncio da mudança em Deus, e percebe que muito mais forte que o ultimato da PM via imprensa, é o ultimato que surge da cruz. O ultimato que anuncia a todos nós que Deus nos chama a depor as nossas armas, as nossas convicções e nosso orgulho, a fim de rendermos o nosso coração enquanto ainda é tempo. E nesta hora sua visão é ampliada, e naquele momento você rende o seu coração a Cristo, pedindo ao Senhor apenas uma graça: a prisão de seu filho. Sim, este é o seu desejo, poder ainda visitar seu filho no cárcere e mostrar-lhe que apesar de prisioneiro, ele poderá encontrar a mudança interior que só Jesus pode realizar.

Que Deus nos abençoe!

Um comentário:

Elizeu Rocha disse...

Valeu Rodrigo, parabéns pelo texto muito positivo e empolgante.
Continue assim...

Abraços Elizeu Rocha