Embora tenhamos diferentes papéis
na sociedade (pais, filhos, trabalhadores, contribuintes, eleitores, etc.),
Deus não nos concedeu uma vida fatiada, mas sim uma vida única, una e integral.
Em outras palavras, nós não possuímos uma vida familiar e uma vida
profissional, assim como não possuímos uma vida material e outra espiritual.
Não temos várias vidas, temos uma só. E esta vida que temos, interage com
outras vidas em um sistema de relacionamentos que podem ser construtivos ou destrutivos
dependendo das ações dos outros e de nossas ações também. Ao mesmo tempo que
podemos ser edificadores, também podemos ser edificados, da mesma forma que podemos
ser os opressores podemos ser os oprimidos.
O fato é que toda a forma de
opressão, ou seja, tudo aquilo que venha para afligir, explorar, denegrir,
injustiçar, deprimir, danificar, extorquir, corromper, angustiar, empobrecer,
adoecer ou denegrir a nossa humanidade; tem sua origem na maldade que é fruto
da vazão que damos à natureza inclinadamente pecaminosa que há em cada um de
nós. Existe em nós uma fome pela aceitação, pela saciedade carnal, por riquezas
e poderes que fazem com que cometamos os atos mais vergonhosos e que
construamos o mundo como ele se apresenta em nossos dias. A sociedade é o reflexo
do indivíduo coletivo.
Mediante a tudo isso, surge um
fato incomum na História. Há aproximadamente dois milênios atrás, nasce uma
pessoa cuja vida é tão ímpar que, mesmo em um pequeno pedaço de terra de um
grandioso império, consegue impactar infinitas vidas e modificar a maneira de
se viver e se fazer sociedade ao longo de todos os tempos. Falo aqui de Jesus
de Nazaré, o Cristo de Deus. Alguém tão humano que só poderia ser Deus
encarnado. Alguém cujo viver demonstrou, por palavras e obras, que Deus agora
se fazia presente entre nós, vivendo a nossa vida para nos ensinar sobre a vida
e sobre o que é viver.
Assim, Cristo nos revelou a vida
de Deus, a vida em abundância que para ser vida genuína precisa ser liberta da
ditadura do pecado. E afirmando ser ele mesmo a vida, nos ensinou que quanto
mais parecidos com ele somos, mais longe da forma pecaminosa de viver ficamos,
e isto é libertação.
Em Cristo, nossa vida é liberta
integralmente. As coisas que nos oprimem, pouco a pouco perdem seu efeito porque
nosso sistema de valores é mudado em Jesus. Nele eu descubro que a verdadeira riqueza,
poder, satisfação, felicidade, completude, plenitude e saciedade estão em
fontes abundantes além das rotas cisternas que me rodeiam. E isso me dá uma
nova vida baseada em um novo jeito de pensar e de viver.
Mas a grande verdade é que Jesus não me liberta somente
daquilo que me oprime, mas também da minha forma de oprimir para alcançar
benefícios que minha natureza deseja. Porque no dia a dia, eu não sou só o
agredido; muitas vezes eu sou o agressor, o autor de pequenos gestos que
contribuem para a manutenção desta sociedade danificada e opressora. Assim, uma
vez com a mentalidade renovada, passo a ser agente de justiça e ajo para que
outras pessoas sejam dignificadas em sua humanidade, para que outros gozem dos
direitos mais básicos de sobrevivência. Uma vez transformado, passo a ser
agente de transformação e crio ou mesmo me envolvo com movimentos sociais que
promovem a saúde física, emocional e espiritual do próximo. Passo a ser um
promotor da vida em toda a sua diversidade humana e ambiental. Uma vez liberto,
prego esta liberdade a fim de gerar em cada coração o elo de ligação com o
próximo e com a pessoa de Deus, reformando minha cidadania terrena com os
moldes do Reino de Deus que por meio da vida em Cristo já está entre nós.
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